quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Influencias de um violeiro




desconfio que não seja coincidência

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Morreu na Praia

O Bróder do Mundo Livre S.A. teve mesmo uma boa sacada. O Brasil é um país quase lá. Los Hermanos quase que consegue encaixar nossa tradição com o rock. Mas aqueles acordes de bossa nova farofa são mais bonitinhos do que são bons. Estão mais para Cardigans do que para João Gilberto.

A nova mpb, essa invenção da Trama, por pouco não é nova. Cada artista da Trama é diminutivo de algum velho artista (Na maioria das vezes literalmente). O próprio Tom Zé, também da Trama, é um diminutivo dele mesmo. Acho que ele, depois que escreveu na contracapa de um disco que a sua proposta é plagiar ele mesmo, deveria se chamar Tom Zézinho.

Essas novas cantoras quase que são intérpretes convincentes. Falta-lhes a quota de desafino para tal. Enche o saco escutar gente que não desafina sequer uma vez. Maria Bethania, Gal, Nara, desafinavam bonito.

O próprio Mundo Livre é quase uma alternativa certa para uma música que não seja nem provinciana, nem americana. Se o Fred 04 cantasse mais do que fizesse manifestos seria ótimo.

Se não fosse esses poucas coisas seria tudo lindo. um nariz de diferença e estamos lá. Um nariz de diferença e somos penta. Quase levamos o oscar.

Orgasmo Adulto Escapes From the Zoo


Seria um bom nome para uma banda, mas é o nome de um grupo de teatro novaiorquino. Merda.

sábado, 4 de agosto de 2007

Passeio no Ana Lídia

É brasiliense demais dar uma volta no parque da cidade. Tão brasiliense que todo o impacto e sensação de pertencimento atinge como nenhuma superquadra da asa sul. É um dos únicos lugares que o ideal do pessoal que projetou esta cidade parece se realizar. Lá, todo mundo é vizinho e fala bom dia. bem diferente de alguns lugares como o Pontão, por exemplo. No parque não tem aquela joça de grama fininha, que parece de plástico, que começou a rolar por toda casa do lago sul desde os anos noventa. É aquela grama velha, a muito conhecida, onde a gente vê mais raízes e terra do que grama propriamente. É aquela grama onde se fazem os caminhos de terra de várias pisadas, a contra-gosto dos paisagistas que projetam algo do estilo do pontão. Ontem, querendo dar uma volta e achar um lugar tranquilo para ler um livro, fui para lá, em busca desta sensação urbana idílica de passarinhos cantando, de criançinhas aprendendo a andar de bicicleta sem rodinha e de marombeiros tomando água de côco.
Daí que me ocorreu de visitar o parque Ana Lídia. Me lembrava muito dele como um parque legal quando era bem moleque. Não tanto quanto o Nicolândia, com sua montanhinha russa que caía n´água, mas era mais curioso. Só vi coisa quase tão curiosa quanto quando vi um playgroud inspirado em Miró, em Barcelona, mas o Ana Lídia têm o mérito de ser uma pala por si só, não uma pala que remete à uma pala errada.
O Ana Lídia é um parque muito irreverente. Um lugar onde vários temas e reflexões confluem. Rola uma salada de referências pop, uma fanfarronice meio tropicalista, um romantismo de longa metragem de animação da disney e uma concepção meio careta da infância que resiste no canal 2 de seu televisor. Tem um escorregador que é uma bota e o carro de abóbora da cinderela, com todos os rococós formados pelos ramos na ala conto de fadas. Tem a ala dos meninos, com cabanas apaches, caravanas de velho oeste e barcos viking. E, lá no fundo a ala futurista ou progressista, com aquele foguete gigante e um trepa-trepa em forma de bolha.
O parque é muito mais especial do que uma reportagem comemorativa do Correio Brasiliense pode mostrar. Consegue juntar à breguiçe e a irreverência aquilo que se espera das crianças criadas na cidade: Uma invencionice debochada a um só tempo amorosa e cínica. Aproveitei bem o parque à época, principalmente as tendas apaches e a Bolha-Trepa-Trepa, que já foi campo de força demoníaco, colônia de insetos gigantes e pique. Do foguetão não posso dizer o mesmo. Apenas subia e descia como um tonto, com medo da ponte de madeira.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Respeita os oito baixos do seu pai.

Cara, como o Belchior pode ser estraga prazeres dele mesmo, às vezes. Músicas lindas, reclamando de uma esperança de futuro perdida por aí, com aquele apreço traído pela juventude. Ela tem de entusiasmar, não pode deixar a peteca cair, tem que aceitar os seus teclados e sintetizadores e gozar com eles. Reclama, hoje, para um interlocutor diferente da moda de 73: “Eu quero é que este canto torto feito faca corte a carne de vocês”. Acompanhado de um Yamaha, num acorde menor, bem sentido.

Não que eu queira colocar o corpo fora, tal. Mas é mesmo incômodo esses velhos aí pedindo para a gente ter esperança, consciência e juventude. O pessoal que achou isso legal está lá na reitoria da USP, querendo levar cacete para guardar a fotografia pros netos. Eu prefiro ficar em casa, meio puto porque ao mesmo tempo em que acho todas essas barbas, tambores e camisetas da Mafalda feios, fico tocado pelos sintetizadores do Belchior. Não são saudades da ditadura, vontade de seqüestrar embaixadores ou de ser deportado. Mas aquela vozinha fanha fala comigo quando estou, sei lá, andando pela cidade ou brincando com meus cachorros.

Juventude, que coisa mais velha. Acho que ela só existiu por pouco tempo, uns sete ou oito anos. Um bando de universitários com olhar digno e perturbador, caras até legais, mas que não conseguiram fazer frente à roda viva com cara de nojinho tanto por parte do David Bowie, dos seus filhos e do funcionalismo público. E a gente tem que respeitar os oito baixos de nossos pais, falando destas aventuras numa época onde não existia videogame ou RPG, em que neguinho apanhava pra valer (no RPG isso também rola, às vezes) e podia viver seu próprio épico. O falsete saía da voz do Milton Nascimento a cada bala de borracha nas costas.

Hoje a gente redescobre o Milton e o Belchior, acha muito lindo, consegue entender a poesia da época e o que tem a ver com a gente. Não que eu esteja com vontade de apanhar de policia, mas aquele “Avante!” tão bem escutado na voz destes dois parece mais com um lamento. Não nos exorta às armas, mas a um sorriso na cara, à falta de gosto pela noite com cara de nojinho, a uma choradeira sadia e uma nostalgia de merda.