

desconfio que não seja coincidência
Não que eu queira colocar o corpo fora, tal. Mas é mesmo incômodo esses velhos aí pedindo para a gente ter esperança, consciência e juventude. O pessoal que achou isso legal está lá na reitoria da USP, querendo levar cacete para guardar a fotografia pros netos. Eu prefiro ficar em casa, meio puto porque ao mesmo tempo em que acho todas essas barbas, tambores e camisetas da Mafalda feios, fico tocado pelos sintetizadores do Belchior. Não são saudades da ditadura, vontade de seqüestrar embaixadores ou de ser deportado. Mas aquela vozinha fanha fala comigo quando estou, sei lá, andando pela cidade ou brincando com meus cachorros.
Juventude, que coisa mais velha. Acho que ela só existiu por pouco tempo, uns sete ou oito anos. Um bando de universitários com olhar digno e perturbador, caras até legais, mas que não conseguiram fazer frente à roda viva com cara de nojinho tanto por parte do David Bowie, dos seus filhos e do funcionalismo público. E a gente tem que respeitar os oito baixos de nossos pais, falando destas aventuras numa época onde não existia videogame ou RPG, em que neguinho apanhava pra valer (no RPG isso também rola, às vezes) e podia viver seu próprio épico. O falsete saía da voz do Milton Nascimento a cada bala de borracha nas costas.
Hoje a gente redescobre o Milton e o Belchior, acha muito lindo, consegue entender a poesia da época e o que tem a ver com a gente. Não que eu esteja com vontade de apanhar de policia, mas aquele “Avante!” tão bem escutado na voz destes dois parece mais com um lamento. Não nos exorta às armas, mas a um sorriso na cara, à falta de gosto pela noite com cara de nojinho, a uma choradeira sadia e uma nostalgia de merda.