sábado, 4 de agosto de 2007

Passeio no Ana Lídia

É brasiliense demais dar uma volta no parque da cidade. Tão brasiliense que todo o impacto e sensação de pertencimento atinge como nenhuma superquadra da asa sul. É um dos únicos lugares que o ideal do pessoal que projetou esta cidade parece se realizar. Lá, todo mundo é vizinho e fala bom dia. bem diferente de alguns lugares como o Pontão, por exemplo. No parque não tem aquela joça de grama fininha, que parece de plástico, que começou a rolar por toda casa do lago sul desde os anos noventa. É aquela grama velha, a muito conhecida, onde a gente vê mais raízes e terra do que grama propriamente. É aquela grama onde se fazem os caminhos de terra de várias pisadas, a contra-gosto dos paisagistas que projetam algo do estilo do pontão. Ontem, querendo dar uma volta e achar um lugar tranquilo para ler um livro, fui para lá, em busca desta sensação urbana idílica de passarinhos cantando, de criançinhas aprendendo a andar de bicicleta sem rodinha e de marombeiros tomando água de côco.
Daí que me ocorreu de visitar o parque Ana Lídia. Me lembrava muito dele como um parque legal quando era bem moleque. Não tanto quanto o Nicolândia, com sua montanhinha russa que caía n´água, mas era mais curioso. Só vi coisa quase tão curiosa quanto quando vi um playgroud inspirado em Miró, em Barcelona, mas o Ana Lídia têm o mérito de ser uma pala por si só, não uma pala que remete à uma pala errada.
O Ana Lídia é um parque muito irreverente. Um lugar onde vários temas e reflexões confluem. Rola uma salada de referências pop, uma fanfarronice meio tropicalista, um romantismo de longa metragem de animação da disney e uma concepção meio careta da infância que resiste no canal 2 de seu televisor. Tem um escorregador que é uma bota e o carro de abóbora da cinderela, com todos os rococós formados pelos ramos na ala conto de fadas. Tem a ala dos meninos, com cabanas apaches, caravanas de velho oeste e barcos viking. E, lá no fundo a ala futurista ou progressista, com aquele foguete gigante e um trepa-trepa em forma de bolha.
O parque é muito mais especial do que uma reportagem comemorativa do Correio Brasiliense pode mostrar. Consegue juntar à breguiçe e a irreverência aquilo que se espera das crianças criadas na cidade: Uma invencionice debochada a um só tempo amorosa e cínica. Aproveitei bem o parque à época, principalmente as tendas apaches e a Bolha-Trepa-Trepa, que já foi campo de força demoníaco, colônia de insetos gigantes e pique. Do foguetão não posso dizer o mesmo. Apenas subia e descia como um tonto, com medo da ponte de madeira.

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