segunda-feira, 10 de novembro de 2008

stylistica

É. Tem gente que tem jeito mesmo para escrever. Acabei de ler o livro "A estrutura lacaniana das psicoses", grande promessa nesse título.

No entanto, o assunto só é abordado frontalmente em umas quarenta linhas esparsas lá pelo meião e em algumas notas do tradudor, mostrando um jogo de palavras em francês onde a palavra psicose é sugestionada. O livro parece que só é histeria, exílio, judaísmo, verdade, letra e Outro -- existem ótimas observações sobre todos estes temas. Nem me deixou tão incomodado. Mas, seilá, achei que queria meu dinheiro de volta.

Talvez eu não tenha o refinamento para perceber que a melhor maneira de abordar uma questão é a evitando, mudando de assunto quando ela está prestes a se anunciar. Acho que Melman (o autor do tal livro) devia estar muito focado em cumprir este programa. Deve ser um trabalho de cão. Isso é estilo demais.

Aliás, no livro, existia um ótimo capítulo sobre a o sentido das palavras antitéticas em psicánalise (i. e. ironia). Dizia como a escrita é sintoma e que é ela mesma que produz o autor. "O escrito tentará fazer-se a partir de uma necessidade de consistência, independente do sujeito, impondo-se a ele". O autor se cria aniquilando o sujeito, como pude constatar agora, escrevendo neste blog depois de meses.

Olha, este não é um post raivoso. Gostaria de agradecer Melman por me dar vontade de escrever de novo neste blog. Ainda demonstrando meu desarmamento, digo que são bem mais que quarenta linhas as dedicadas a psicose. Ele mesmo explica que seu seminário é da natureza do dizer, e não do dito. Acho que aprendi uma coisa que Lacan não deixa tão claro. (Na verdade deixa, mas ninguém perde a chance de falar da dificuldade de ler Lacan, sacumé..)

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