Felicidade
é uma palavra muito desejada e equívoca. Cada um tem sua ideia, claro, mas é
usada como se todo mundo soubesse do que se esta falando quando fala dela. Ela
não é referenciável da mesma maneira que uma cadeira ou uma casa por
exemplo. A felicidade não tem nada para
segurar. Ela não tem existência física. A única maneira de segurá-la é escrever
em um papel e segurar este papel.
Mas não
tem como negar que a palavra não é qualquer uma. Tem gente que sente falta e sabe muito bem o
que é. Acontece que mesmo sabendo, não
tem como pensar que seja a mesma coisa para um. Se tem alguma coisa que é certo sobre a
felicidade é que ela é particular, no sentido de que cada um tem a sua
concepção. Isso não impede que falemos sobre ela, mas põe a restrição de saber
que é uma visão a mais sobre o assunto.
Gostaria,
agora que algumas ressalvas foram feitas, de propor uma maneira de falar sobre
ela que faz uma leitura de um filósofo da linguagem, O J. L. Austin. Ele usa a
palavra felicidade no sentido de um bom desenlace para um ato. Por exemplo,
quando se diz: “Eu tentei demover o presidente da ideia de manter o fator
previdenciário, mas não fui feliz”.
De
acordo com Austin, não se pode pensar nas coisas que falamos apenas em termos
de verdadeiro e falso, mas em termos de atos felizes ou infelizes. Toda vez que
falamos, nós fazemos uma porção de coisas: pedimos desculpas, ordenamos,
declaramos, prometemos. A coisa é tão espalhada que cada vez que falamos nós
não apenas comunicamos, nós fazemos coisas. Esses tipos de atos, atos de fala,
ou são felizes ou infelizes. Quando alguém promete e não cumpre, ou quando
alguém ordena sem condições para tanto realiza um ato infeliz. O ato de fala feliz precisa de que as
condições destes atos sejam realizadas. Para que se possa prometer é necessário
que se assuma um compromisso, para escolher é necessário que existam
alternativas.
A ideia
de felicidade que proponho diz respeito a como fazer com que nossos atos sejam
felizes, que logremos em realizá-los.
Isso nos colocaria no lugar de ter uma ideia não enganosa de nossas
intenções, nossa ética, para pelo menos fazer algo de bom disso. Não que tenhamos
que cumprir todas as nossas promessas, mas no ato mesmo de realizá-las
estejamos conscientes do que nos move nesse sentido, até para não as
realizarmos em vão, com infelicidade. Existem motivações inconscientes que
podem nos tornar infelizes, até porque a intencionalidade nos era oculta,
tornando o ora o ato infeliz, ora a realização deste ato algo que pode tornar o
falante/atuante infeliz pela não tomada em conta de sua motivação.
É claro
que a felicidade de que falo aqui é de outra ordem daquela de uma vida feliz,
mas existe um espaço mínimo de intersecção entre elas. Por exemplo, se você
esta infeliz porque uma pessoa amada lhe deixou, porque não pensar que o ato de
renunciar pode ser feliz?
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