segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A felicidade de nossos atos



                Felicidade é uma palavra muito desejada e equívoca. Cada um tem sua ideia, claro, mas é usada como se todo mundo soubesse do que se esta falando quando fala dela. Ela não é referenciável da mesma maneira que uma cadeira ou uma casa por exemplo.  A felicidade não tem nada para segurar. Ela não tem existência física. A única maneira de segurá-la é escrever em um papel e segurar este papel.
                Mas não tem como negar que a palavra não é qualquer uma.  Tem gente que sente falta e sabe muito bem o que é.  Acontece que mesmo sabendo, não tem como pensar que seja a mesma coisa para um.  Se tem alguma coisa que é certo sobre a felicidade é que ela é particular, no sentido de que cada um tem a sua concepção. Isso não impede que falemos sobre ela, mas põe a restrição de saber que é uma visão a mais sobre o assunto.
                Gostaria, agora que algumas ressalvas foram feitas, de propor uma maneira de falar sobre ela que faz uma leitura de um filósofo da linguagem, O J. L. Austin. Ele usa a palavra felicidade no sentido de um bom desenlace para um ato. Por exemplo, quando se diz: “Eu tentei demover o presidente da ideia de manter o fator previdenciário, mas não fui feliz”. 
                De acordo com Austin, não se pode pensar nas coisas que falamos apenas em termos de verdadeiro e falso, mas em termos de atos felizes ou infelizes. Toda vez que falamos, nós fazemos uma porção de coisas: pedimos desculpas, ordenamos, declaramos, prometemos. A coisa é tão espalhada que cada vez que falamos nós não apenas comunicamos, nós fazemos coisas. Esses tipos de atos, atos de fala, ou são felizes ou infelizes. Quando alguém promete e não cumpre, ou quando alguém ordena sem condições para tanto realiza um ato infeliz.  O ato de fala feliz precisa de que as condições destes atos sejam realizadas. Para que se possa prometer é necessário que se assuma um compromisso, para escolher é necessário que existam alternativas.
                A ideia de felicidade que proponho diz respeito a como fazer com que nossos atos sejam felizes, que logremos em realizá-los.  Isso nos colocaria no lugar de ter uma ideia não enganosa de nossas intenções, nossa ética, para pelo menos fazer algo de bom disso. Não que tenhamos que cumprir todas as nossas promessas, mas no ato mesmo de realizá-las estejamos conscientes do que nos move nesse sentido, até para não as realizarmos em vão, com infelicidade. Existem motivações inconscientes que podem nos tornar infelizes, até porque a intencionalidade nos era oculta, tornando o ora o ato infeliz, ora a realização deste ato algo que pode tornar o falante/atuante infeliz pela não tomada em conta de sua motivação.

                É claro que a felicidade de que falo aqui é de outra ordem daquela de uma vida feliz, mas existe um espaço mínimo de intersecção entre elas. Por exemplo, se você esta infeliz porque uma pessoa amada lhe deixou, porque não pensar que o ato de renunciar pode ser feliz?

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