quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Respeita os oito baixos do seu pai.

Cara, como o Belchior pode ser estraga prazeres dele mesmo, às vezes. Músicas lindas, reclamando de uma esperança de futuro perdida por aí, com aquele apreço traído pela juventude. Ela tem de entusiasmar, não pode deixar a peteca cair, tem que aceitar os seus teclados e sintetizadores e gozar com eles. Reclama, hoje, para um interlocutor diferente da moda de 73: “Eu quero é que este canto torto feito faca corte a carne de vocês”. Acompanhado de um Yamaha, num acorde menor, bem sentido.

Não que eu queira colocar o corpo fora, tal. Mas é mesmo incômodo esses velhos aí pedindo para a gente ter esperança, consciência e juventude. O pessoal que achou isso legal está lá na reitoria da USP, querendo levar cacete para guardar a fotografia pros netos. Eu prefiro ficar em casa, meio puto porque ao mesmo tempo em que acho todas essas barbas, tambores e camisetas da Mafalda feios, fico tocado pelos sintetizadores do Belchior. Não são saudades da ditadura, vontade de seqüestrar embaixadores ou de ser deportado. Mas aquela vozinha fanha fala comigo quando estou, sei lá, andando pela cidade ou brincando com meus cachorros.

Juventude, que coisa mais velha. Acho que ela só existiu por pouco tempo, uns sete ou oito anos. Um bando de universitários com olhar digno e perturbador, caras até legais, mas que não conseguiram fazer frente à roda viva com cara de nojinho tanto por parte do David Bowie, dos seus filhos e do funcionalismo público. E a gente tem que respeitar os oito baixos de nossos pais, falando destas aventuras numa época onde não existia videogame ou RPG, em que neguinho apanhava pra valer (no RPG isso também rola, às vezes) e podia viver seu próprio épico. O falsete saía da voz do Milton Nascimento a cada bala de borracha nas costas.

Hoje a gente redescobre o Milton e o Belchior, acha muito lindo, consegue entender a poesia da época e o que tem a ver com a gente. Não que eu esteja com vontade de apanhar de policia, mas aquele “Avante!” tão bem escutado na voz destes dois parece mais com um lamento. Não nos exorta às armas, mas a um sorriso na cara, à falta de gosto pela noite com cara de nojinho, a uma choradeira sadia e uma nostalgia de merda.

Um comentário:

Ana Lopes disse...

Você é meio duro com o Belchior, aliás tem um toque de pessimismo no seu post.
Mas é muito bom!
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