sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A psicanálise no gerúndio.


Depois de escrever o texto sobre o texto do Dunker, eu fiquei pensando... Lacan dizia que o lugar de onde ele falava seu seminário era de analisando. Existe toda uma discussão sobre o lugar do analista e quanto mais eu me detenho nisso, percebo que o lugar do analista tem a ver com a sustentação ou de um silencio ou algo como um tuíte, meio curto e grosso, só para o analisando sair do lugar e continuar seu caminho de associação.

Quando a psicanalise começou quem falava era a histeria. O próprio Freud tirava suas ideias de sua auto-análise. o analista de Freud, ele não existia, mas a necessidade de haver um, quando se fala em análise, fez algumas pessoas conjecturarem que podia ser o Fliess, ouvinte crítico e amigo. Um sujeito mei loco, que tinha umas idéias de uma ligação entre sexualidade e nariz, e dizia que as pessoas tinham uma bissexualidade inerente. Esta última ideia, Freud retomou doidamente e radicalmente. O lugar da escrita da teoria psicanalítica é do analisando. o que o psicanalista faz não é exatamente teoria, apesar de ter um papel fundamental em seu desenvolvimento.

Em francês existe uma maneira de falar as coisas que não é exatamente igual no português, mas tem lá suas reverberações, tanto que eu acho que consigo explicar aqui. Analista não é contável, como você conta maçãs: uma maçã, duas maçãs... Analista, por ser um lugar, é incontável, é que nem água. Você não conta uma água, duas águas... ( a não ser que você esteja falando metonimicamente de copos de água) Você só diz: água. Em francês: Boire de l'eau. Em português seria algo como; vou beber da água. Daí, analista não seria um analista, mas sim uma parte numerável em si, mas apenas numerável como parte. Parece complicado, mas isso tem a ver com problemas de tradução e coisas que ocorrem ao pensar esse lugar curioso que é o do analista.

Ainda bem que em português temos como dizer isso de forma que francês nenhum pode dizer (sem esforço), porque temos o verbo estar. Você não é analista, você está analista. Até por colocar em jogo um certo des-ser, o verbo estar pode ser interessante para descrever. Engraçado, como se trata de um des-ser, a gente poderia dizer, em português, que para estar analista é importante descer do tablado.

Quanto a questão do analisando, cabe dizer que se fazer fazer teoria, burilar nas formações do inconsciente, incomodar-se com isso ao ponto de eliciar pensamento, é estar no lugar de analisando, mesmo que você tenha "atravessado a fantasia"(como dizem). Como tal, cada uma das formulações nesse lugar são no máximo provisórias e com necessidade de constante revisão. Vamos se falando.

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