Já digo desde já, que se alguém quiser entender o que
estou dizendo, leia o texto do link acima
Bolsonaro é um sujeito muito palha, acho ele um canalha. A pergunta
se põe a mim da mesma maneira que se coloca ao Dunker: o que fazer? No entanto não acho que o que se tenha a
fazer esteja relacionado à psicanálise, pelo menos não diretamente. A psicanálise
aí, viria por acréscimo, talvez eu indo pro analista para eu entender porque tanta
raiva do Bolsonaro. Fazer análise não necessariamente me faria ter menos raiva
dele, talvez apenas direcioná-la melhor.
Há diversas perguntas que se colocam no texto: O que fazer?
Parece pouco? Que são quase que tomadas pela decisão ou pelo dever de fazer
algo. Compartilho desse sentimento, mas sei que esse é um dever moral que nos
vem quando vemos algo que julgamos errado: há algo que podemos fazer para
evitar essa violência? Às vezes isso vem com o velho prazer de fazer alguma
maldade a quem faz o mal, como prender ou dar uns tapas mesmo. Aliás, o que é engraçado,
parece que alguns desses sentimentos movem o Bolsonaro, e é nesse espelho que é
interessante analisar os nossos. Acho
que seria muito legal, entre outras coisas, mostrar a desumanidade das palavras
e atos do deputado para que seja possível ver que esse bom que ele defende não
é tão bom assim. Para isso não precisa por o bom do nosso lado por completo,
basta complexificar o discurso porque as coisas são complexas.
Mas a cada uma das sugestões, uma pergunta se impõe: parece
pouco?
E o que parece muito?
Se não quisermos ser iguais ao Bolsonaro, é melhor reconsiderar nossa própria raiva
e o que podemos fazer a partir dela.
É engraçado, para dizer o mínimo, que Dunker afirme primeiro
a posição esquizo-paranóide Kleiniana, que enfatiza a cisão ente bons e maus
para logo depois, no parágrafo seguinte afirmar uma posição que informa o mundo
da mesma maneira: os universalistas e particularistas. “Eu sou universalista e
você particularista, seguimos filosofias diferentes, não dá pra conversar
porque você não compreende a ‘essência do
sujeito’(sic) como sendo fundamentalmente esta: vazio e dividido.” Opa, que
palavras pesadas, quanta identidade do analista, com um universal ainda por
cima. Não quero me arriscar tanto pelo térreno árido da filosofia, mas não vejo
necessidade alguma da psicanálise de afirmar universal algum, mesmo que seja
este universal negativo: “todo x é não todo”. Ora, afirmar “não todo x é não
todo”, é igualmente válido, a depender das contingências. Afirmar as contingências
é apontar para o não-todo, incluindo aí a enunciação de um universal. Esse tipo
de conversa nos leva ao doce pássaro do paradoxo, que aparece para a gente ter
cuidado com os enunciados, vermos os limites do espírito, nos determos mais na
analise da enunciação que do enunciado. Por exemplo: o que implica haver uma
pessoa que capture algo de universal com seu pensamento? O que isso equivale em
termos de saber-poder?
Esta cosmovisão é tão contingente quanto qualquer identidade
sexuada. Por perceber que o contingente opera no discurso dos psicanalistas que
podemos falar de psicanálise. O lugar do analista não implica uma visão de
mundo, mas uma destitução do sujeito. Ser
um sujeito implica ter uma visão de mundo até porque esta é a máscara necessária
para que este não se eclipse. Ainda assim há que se dizer que o sujeito não é
isso, porque há o inconsciente e ele está aí para que essas visões de mundo
sejam sintomáticas, ou que sejam desmentidas de quando em quando, ou para
servir de base inconfessa, enfim, muitas configurações possíveis.
Um dos meus problemas com o texto do Dunker é a forma de
pensar psicanálise e política. Lógico, dá pra fazer uma crítica bastante
agressiva, porque paternalizante, se você se colocar como analista para falar
do comportamento público de alguém. É uma vingança perfeita, mas como diria o
seu Madruga, “mata a alma e envenena”. O que é envenenado aqui é a própria psicanálise
e seus propósitos. É engraçado e me
percebo agora, é que nada impede de você querer fazer a mesma coisa com quem se
arroga de analista para falar do
comportamento de alguém. Espero estar escrevendo este texto no máximo como analisando
pensando a psicanálise. Ninguém é analista o tempo todo. Alguns tem dificuldade de se ver fora do lugar de analista. Psicanálise pode ser benéfica para qualquer um, não para todos. Nem todo mundo se beneficia da psicanalise.
4 comentários:
Mas o Dunker posta como analista ou como Dunker? "Mas a psicanálise não opera sem psicanalistas e estes são muito mais terrenos do que os métodos nos quais acreditam" (ele tá se valendo da psicanálise, mas, vá lá, ela não é santa)
Depende do aspecto, é mais a cola Dunker/analista que me incomoda. tem uma interpretação no texto que se pretende analítica, como se ele conduzisse uma sessão com uma pessoa que não está lá. Já me incomodei, diga-se de passagem, com o título. é bem palha, do pnto de vista biopolítico da coisa, recomendar a psicanalise para pessoas que tem comportamentos e ideias que não concordamos. acho mais sincero um soco, uma discussão, enfim...
Sagaz seu texto. Também me incomodou um pouco o essa coisa de análise pública, e de ter criado uma nova dicotomia, ainda que o Dunker tenha ensaiado alguma abstinência apontando para esse lugar vazio do analista. Mas a psicanálise não é só uma prática, como ele mesmo lembrou também. recorrer a teoria para falar de impasses éticos... acho digno. Nesse caso o impasse é tolerar a intolerância. Quando o conflito está tão polarizado é uma estratégia que ambos os lados lançam mão: atacar defendendo, de modo que nunca se sabe quem começou. A trupe liberal acha que há um golpe em andamento e a esquerda, paranóica por natureza, é vítima de destituições desde sempre. Até aí nada de novo. Mas quando a psicanálise se torna alvo da chacota desses falastrões, como um tipo de moda da esquerda iludida (não que não seja, zizek tem me irritado) e lembrando que Freud era um conservador, como se isso fechasse a discussão, isso é ataque barato. Não acho que a psicanalise deva se limitar a clinica, nem que seja uma ferramenta da esquerda. Acho que pode lançar inteligibilidade sobre as formas de vinculação subjetiva que subjazem no social e no político, daí a esquerda se interessar mais por ela. Os liberais, com argumentos que imitam um realismo cientifico, pretendem que as relaçoes politicas sejam esvaziadas, (estado minimo e etc.), para que o mercado seja livre e produtivo. Nao raro colocam o egoismo como a principal caracteristica humana e a principal motivação o interesse proprio. É a psicologia do ego com um metodo behaviorista, onde reforço=lucro.
No entanto, quando aliada do discurso conservador, essa ideia se torna: devo ter garantida minha liberdade de ser intolerante, de limitar a liberdade do outro, pois o outro pretende me obrigar a ser tolerante, e isso é coisa de comunista.
Espero nao ter falado muita besteira. diz o que acha aí de boa. valheu.
Irado NimRod-rigo, tô no seu encalço. Freud, por ter falado publicamente, mal ou bem, merda ou não, pegou no calo da racionalidade moderna e também da ciência. Esse mito de fundação da psicanálise inspira muito seus praticantes, pro bem e pro mal.
Se na ética clínica o que se diz e faz parte pelo trabalho com o semblante (seja ele ser uma pessoa pública), na ética de fazer política, publicar num site, entrar num embate com a direita maluca, são outras coisas que entram em jogo, inclusive usar ironias baratas através de psicanálise (deita no meu divã, bolsonaro).
Zizek e Dunker fazem isso demais, acho que dão boas bolas dentro, mas nunca "estão fazendo psicanálise"(em extensão ou intensão). Tão fazendo outra coisa, talvez o soco na cara que eles conseguem.
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